Silêncio da Microsoft sobre vendas do “Windows 8″ aponta que as coisas não vão bem em Redmond
GIZMODO
Desde janeiro, companhia não apresenta relatórios das vendas de seu novo sistema operacional, considerado “o salvador da Microsoft”. Futuro do Windows Blue (9) é coberto de incertezas. Vendas de PCs estão no menor nível desde 2009.
Lançado em outubro do ano passado, o Windows 8 é uma aposta sem precedentes da Microsoft. Como toda grande aposta, o seu desempenho no mercado era uma grande incógnita na época. Agora, seis meses depois de ser disponibilizado aos consumidores, o silêncio da Microsoft só coloca mais desconfiança na capacidade do sistema reagir aos novos concorrentes da “Era Pós-PC”.
O Windows 8 é sistema híbrido com a pretensão de atender usuários de computadores convencionais e tablets, teoricamente sem prejuízo independentemente do cenário em que ele for utilizado. Na prática ele carrega uma série de concessões e o discurso de não ter “comprometimentos”, falado à exaustão pela Microsoft durante o período de desenvolvimento, parece não se sustentar.
Seis meses após seu lançamento, o último número concreto de vendas que temos do Windows 8 é o de 60 milhões de cópias, de janeiro. Havia uma grande expectativa pela declaração de números atualizados com o relatório fiscal da Microsoft, liberado alguns dias atrás, mas estranhamente ele não trouxe esse dado — coisa que, no passado, era escancarado e fruto de muita festa em Redmond. E esse é o grande problema: o silêncio pode ser entendido como um atestado de que as coisas não vão bem.
A culpa é do Windows 8?
Há outros motivos que corroboram essa suspeita. Diversos parceiros de longa data da Microsoft amaldiçoam o Windows 8 e atribuem a ele as vendas fracas de notebooks e computadores. A Microsoft devolve a crítica e diz que a culpa é das fabricantes — mas depois, estranhamente, baixa o valor das licenças para parceiros OEM. Falta aplicativo e, ante a solidez e familiaridade do Windows 7, é difícil mesmo convencer uma base acostumada a 20 anos de um sistema que pouco mudou comprar um que some com o menu Iniciar (mesmo que, na prática, essa ausência não faça falta).
Apesar dessa situação delicada, talvez o maior problema do Windows 8 não seja ele mesmo, mas a nova safra de equipamentos leves, rápidos e móveis: os smartphones e tablets. Desde 2011 smartphones vendem mais que computadores e a previsão é de que agora, em 2013, os tablets sigam o mesmo caminho. A Microsoft sabe que o cenário é desfavorável para PCs, tanto que investiu na transformação do seu principal produto, o Windows, em algo “tablet-friendly”. Só que, com isso, ela comprometeu o que tinha de melhor e mais estabelecido no segmento de computadores convencionais — que, a despeito de vários prognósticos bem negativos, ainda vende bastante e não deverá sumir repentinamente, como ocorreu com os netbooks, a curto ou mesmo médio prazo.
O que dizem os analistas?
A gente sempre fica com um pé atrás quando se trata de previsões de analistas e consultorias como Gartnet, IDC e afins. O mercado de tecnologia é muito volátil, muda com extrema velocidade. Os netbooks, citados ali em cima, em 2008 eram o Santo Graal do segmento; no começo do ano, a categoria morreu com o anúncio de que a Asus tinha pulado do barco. Dito isso, vejamos os próximos números com cuidado.
A Gartner diz que a distribuição de computadores no primeiro trimestre de 2013 chegou ao nível mais baixo desde 2009. A IDC, que no mesmo período a queda na distribuição, de 13,9%, foi a mais profunda da história. Ambas computam tablets e híbridos, ainda que rodando Windows 8, em categorias diferentes, o que é um ponto bem importante e que foi muito bem explorado por Ed Bott. Todos esses dados são baseados em distribuição, não em vendas diretas aos consumidores.
Outra consultoria, a Strategy Analytics, disse que tablets com Windows alcançaram 7,5% do mercado — um número quase surpreendente para o período, mas bem distante dos líderes, iPad e Android, com 48,2% e 43,4%, respectivamente. Ela atribui o baixo desempenho à “distribuição muito limitada, escassez de apps de primeiro escalão e confusão no mercado”.
Windows Blue com futuro incerto
O Windows Blue, ou Windows 8.1, será a primeira das prometidas atualizações anuais do Windows. Já vazaram algumas builds e, com elas, vimos que melhorias pontuais serão feitas, mas o que mais chama a atenção, não do ponto de vista técnico, mas em termos de mercado, é a possível volta do botão Iniciar e a possibilidade de pular a interface moderna. Alguns não hesitam em apontar dedos dizendo que se trata de uma confissão de que, afinal, a Microsoft errou ao remover o botão Iniciar. Para nós, parece mais uma adequação à demanda. Um erro, sim, então melhor corrigi-lo do que insistir em uma abordagem que não funcionou, certo?
Mas o problema é maior. Como dito acima, a Microsoft subjugou um segmento que domina mas que está em decadência, para apostar num outro em plena ascensão. Na ânsia de abranger tudo, ficou a sensação de “mais ou menos” nas duas plataformas. Saber como o sistema está se saindo comercialmente é importante para recobrar a confiança da indústria e no próprio Windows, aspectos vitais para que uma plataforma se consolide — e, considerando a guinada que foi o Windows 8, dá para considerá-la uma plataforma ainda em busca de consolidação. Tanto mistério, nesse caso, só atrapalha.
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