Após tumulto no Anhembi, Mocidade Alegre é declarada campeã do carnaval 2012 em São Paulo
Último Segundo
Agremiação do bairro Limão venceu com enredo sobre Jorge Amado; apuração foi marcada por brigas e depredação.
Apesar do tumulto durante a apuração, a Mocidade Alegre sagrou-se campeã do carnaval paulistano em 2012. Este é o oitavo título da agremiação no Grupo Especial de São Paulo. O último campeonato tinha sido em 2009. Mas o resultado tem um gosto amargo, que não condiz com a alegria do carnaval. Quem acompanhou todos os desfiles pode ter saído com a impressão de que São Paulo fez neste ano um dos melhores carnavais de sua história, marcado pelo equilíbrio entre as agremiações.A vitória da Mocidade não pode ser chamada de injusta. Assim como não seria injusto declarar Rosas de Ouro, Vai-Vai, Mancha Verde, Vila Maria (ou seja lá qual pavilhão) como as campeãs da folia na leitura das notas. Afinal, todas tinham condições de garantir o resultado. Porém, o que se viu foi um anúncio feito na calada da noite, com a frieza dos textos legais, quando a festa na quadra da vitoriosa já estava cancelada e os foliões em suas casas.
A leitura das notas foi interrompida quando torcedores e representantes das escolas de samba invadiram o palco da Liga e rasgaram as cédulas de apuração dos jurados. Um carro alegórico que estava na dispersão, inclusive, foi incendiado. “Isso denigre a imagem do carnaval, denigre a imagem da cidade de São Paulo. Eu estou envergonhada”, lamentou a presidente da Mocidade, Solange Bichara.
A vitória da escola foi decretada em reunião pelos dirigentes das agremiações. A decisão foi baseada no artigo 29 do regulamento dos desfiles, no primeiro parágrafo. Segundo o texto, na falta de um julgador, será atribuída a maior nota dada por um jurado do quesito. Com a confusão, duas notas de comissão de frente, o último a ser apurado, foram perdidas. A decisão de manter o resultado da apuração, segundo o presidente da Liga, Paulo Sérgio Ferreira, foi votada por sete agremiações, contra cinco contrárias.

VEJA A CLASSIFICAÇÃO FINAL
1º – Mocidade Alegre (170 pontos)
2º – Rosas de Ouro (169,8 pontos)
3º – Vai-Vai (169,6 pontos)
4º – Mancha Verde (169,5 pontos)
5º – Unidos de Vila Maria (169,5 pontos)
6º – Acadêmicos do Tucuruvi (169,4 pontos)
7º – Tom Maior (169,3 pontos)
8º – Dragões da Real (169,3 pontos)
9º – Gaviões da Fiel (169,2 pontos)
10º – X-9 Paulistana (169,1 pontos)
11º – Império da Casa Verde (168,8 pontos)
12º – Águia de Ouro (168,5 pontos)
13º – Pérola Negra (168,1 pontos)
14º – Camisa Verde e Branco (166,2 pontos)
2º – Rosas de Ouro (169,8 pontos)
3º – Vai-Vai (169,6 pontos)
4º – Mancha Verde (169,5 pontos)
5º – Unidos de Vila Maria (169,5 pontos)
6º – Acadêmicos do Tucuruvi (169,4 pontos)
7º – Tom Maior (169,3 pontos)
8º – Dragões da Real (169,3 pontos)
9º – Gaviões da Fiel (169,2 pontos)
10º – X-9 Paulistana (169,1 pontos)
11º – Império da Casa Verde (168,8 pontos)
12º – Águia de Ouro (168,5 pontos)
13º – Pérola Negra (168,1 pontos)
14º – Camisa Verde e Branco (166,2 pontos)
Com o resultado, a Pérola Negra, que homenageou a cidade de Itanhaém, e a Camisa Verde e Branco, que voltou ao Especial neste ano, foram rebaixadas. Nenê de Vila Matilde e Acadêmicos do Tatuapé foram as campeãs do Acesso e voltam à elite em 2013.O desfile da Mocidade surpreendeu com o enredo “Ojuobá – No Céu, os Olhos do Rei… Na Terra, a Morada dos Milagres… No Coração, Um Obá Muito Amado!”. A letra homenageava o escritor baiano Jorge Amado e o livro “Tenda dos Milagres”, que trata da repressão da elite branca aos rituais religiosos dos negros.
O carnavalesco Sidnei França levou à avenida o sincretismo religioso e a representação dos orixás abusando de cores vivas, o que já é marca da agremiação. Conquistou o campeonato após ficar na 7ª colocação no carnaval de 2011. A escola desfilou no domingo (19) e foi a terceira a entrar no Anhembi. A bateria Ritmo Puro, do Mestre Sombra, levantou a avenida.
Segura de sua harmonia, a agremiação do Limão parou totalmente o som e deixou a música por conta dos componentes e das arquibancadas, semelhante ao que fez em 2011. Um dos pontos fortes foi a rainha Aline de Oliveira, que veio à frente da bateria tocando surdo de terceira, instrumento que dá um “balanço” à marcação –isso só foi possível porque a passista já havia desfilado dois anos com os ritmistas, antes de virar destaque da agremiação.

O abre-alas mostrou a evocação a Xangô, o orixá da justiça, uma representação contra a elite branca baiana que reprimia os rituais religiosos dos negros. A ala das baianas pintou a avenida de duas cores, dourado e prata, representando a procissão de Nossa Senhora da Conceição e a lavagem da escadaria da igreja de Nosso Senhor do Bonfim. Fechando o desfile, Jorge Amado foi coroado um Obá de Xangô, título honorário aos defensores do terreiro, por uma enorme Mãe Senhora vestida de baiana.

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