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No Congresso, Dilma dá mais atenção a novos deputados e esvazia influência de antigas lideranças

Último Segundo
Apoiado pela presidente, “novo clero” já bate de frente com líderes aliados tradicionais.
O jeito Dilma Rousseff de se relacionar com o Congresso criou uma nova classe na Câmara dos Deputados e no Senado. Trata-se de uma espécie de novo clero que começa a se destacar e causar problemas a lideranças políticas mais tradicionais, que se desvalorizaram nos últimos meses.
“A Dilma despersonalizou e desmitificou interlocutores que só falavam por si e pelos outros sem ouvi-los”, afirma a deputada Rose de Freitas (PMDB-ES – foto). Atual primeira vice-presidente da Casa, ela se tornou uma das expoentes desse novo clero.
Por conta disso, ela já se movimenta para alçar voos mais altos. Rose é apontada como nome alternativo do partido à presidência da Câmara em 2013. Em princípio, o PT fez um acordo para apoiar o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), que tem 11 mandatos na Casa.
Recentemente, Rose e Eduardo Alves bateram de frente por causa dos problemas enfrentados por Pedro Novais no Ministério do Turismo. Também deputado, Novais foi indicado ao posto por Alves, mas nunca teve o aval completo da bancada.
Com Rose à frente, peemedebistas insatisfeitos defenderam a saída imediata de Novais da pasta após a deflagração da Operação Voucher, da Polícia Federal. Isso enfureceu o líder do PMDB, que resolveu tratar do assunto publicamente e com críticas diretas à deputada capixaba. “Quem demite é só a presidenta Dilma”, disse.
Esse não foi o único momento em que Alves se viu fragilizado com a bancada que lidera. A indicação do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a relatoria do Código de Processo Civil causou protestos por parte de um grupo de deputados.
Nesse caso, acabou se destacando como representante do “novo clero” o deputado Danilo Forte (PMDB-CE). Ele questionou a indicação de Cunha. Disse que o nome deveria ter sido discutido na bancada. Resultado: Cunha foi pressionado e desistiu da relatoria.
“O que acontece é que esse governo não mistura ação administrativa com ação política”, diz Forte. “É preciso se adaptar ao estilo da Dilma. São novos tempos”, completa o deputado. Ele integra um grupo de deputados em primeiro mandato chamado “novos do PMDB”.
No PMDB, além dos “novos”, outro grupo independente é “os jovens”. São deputados com menos de 40 anos que têm como líder informal Renan Filho (PMDB-AL), filho do senador Renan Calheiros (AL). “A gente não é contra ninguém. Só quis um espaço para ser ouvido”, diz o jovem. “Não fizemos algo programado, articulado, de propósito”.
PP
Em outros partidos, também há representantes desse novo clero. É o caso do PP. Um grupo capitaneado pelo deputado Eduardo da Fonte (PE), em segundo mandato na Câmara, e o senador Ciro Nogueira (PP-PI), primeiro mandato no Senado.
Os dois impuseram uma derrota ao ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP), ex-líder da bancada da Câmara, quando montaram uma estratégia para destronar do posto de líder Nelson Meurer (PR), uma espécie de herdeiro do deputado falecido José Janene (PR).
Meurer tornou-se líder no começo do ano, logo depois que Negromonte foi nomeado ministro. Antes do paranaense, o líder era João Pizzolatti (PP-SC), que demorou para tomar posse por causa da Lei da Ficha Limpa.
A principal queixa contra Meurer é que ele não fazia reuniões com a bancada e tomava decisões sozinho. Isso acabou gerando uma onda de descontentamentos e da Fonte e Ciro acabaram reunindo assinaturas para colocar Agnaldo Ribeiro (PP-PB) no lugar de Meurer.
Marco Maia
A própria chegada de Marco Maia à Presidência da Câmara foi, de certo modo, o começo da era do “novo clero”. Ele não era o favorito para o posto, mas acabou sendo produto de uma insatisfação de setores do PT com a falta de discussão dentro da bancada.
Líder do governo até o fim do governo Luiz Inácio Lula da Silva, o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) era visto por todos como o principal nome para assumir a Câmara. No meio da disputa, uma pessoa próxima avisou-o que ele estava com uma estratégia errada, pois privilegiava a conversa com líderes e não com todos os deputados.
Vaccarezza deu a seguinte resposta: “Eu não tenho de falar com toda a porcada. É só falar com o dono da porcada”. O principal trunfo dele era o suposto apoio da presidenta Dilma Rousseff à sua candidatura. Na prática, ela acabou não se envolvendo. Quando Maia se uniu a Arlindo Chinaglia (PT-SP), outro candidato, Vaccarezza teve de desistir da disputa.
Ex-presidente do PT e ex-ministro da Previdência, o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) foi um dos articuladores da campanha de Maia. Alijado do grupo de Vaccarezza, resolveu se unir aos insatisfeitos em torno de Maia. “Dilma não quis se meter naquela disputa. Para ela, é melhor que as coisas definidas aqui, com conversa”, afirmou Berzoini.
Também eleita na chapa encabeçada por Maia, a primeira vice-presidente Rose de Freitas acrescenta uma impressão sobre como Dilma vê o Congresso: “Ela não vai ficar aqui correndo atrás da gente, mandando votar. Ela quer mostrar que os projetos são bons e será bom para o País. Se quiser votar, vota. Precisamos ter essa consciência”, disse a peemedebista.

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