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Um dos cenários do descobrimento do Brasil, paraíso está ameaçado

Últimos Segundo
Disputa entre sem-terra, índios, empresários europeus e brasileiros e conflitos entre governos provocam caos na Costa das Baleias.
Praia do distrito de Corumbau, em Prado, com o monte Pascoal ao fundo
Conflitos fundiários, ambientais e políticos travam o desenvolvimento da região da Costa das Baleias, ainda um paraíso natural no extremo sul da Bahia. São, em suma, disputas por terra e recursos naturais, que expõem interesses econômicos divergentes e falta de entendimento entre órgãos públicos. Quem renova a história de conflitos na terra do descobrimento do Brasil são produtores rurais, assentados da reforma agrária, índios, políticos, servidores públicos, empresários locais e estrangeiros. Em um cenário de 200 km de praias, rios e mangues e que tem na privilegiada observação de baleias jubarte sua principal atração turística.
Na entrada de Prado, município de 27 mil habitantes e pólo da rota turística, o Palácio do Turismo está cercado por tapumes. A obra de R$ 1 milhão, que deveria reunir auditório, informações e comércio na antiga sede da prefeitura, deveria estar pronta no final de 2010, mas pouco avançou. O município diz que a União só liberou a primeira parcela – R$ 200 mil – dos recursos. Indício das dificuldades do turismo na cidade, que reúne 100 mil pessoas no verão e ainda busca alternativas para a baixa temporada.
Os lucros do turismo também parecem não alcançar a maior parte da população. “Em Prado ou você é servidor público ou pescador, porque boa parte do comércio é familiar e emprega pouco”, diz o promotor de Justiça Wallace Carvalho. O avanço da cultura do eucalipto na região desde os anos 80, incentivado pelo regime militar, reduziu o emprego rural e deslocou populações empobrecidas para áreas urbanas.
Empresários europeus mantêm negócios – terras, hotéis, condomínios, restaurantes – e são atores políticos importantes em Prado. “Falta integrar a população local ao desenvolvimento”, diz em português carregado de sotaque o italiano Carlo Casarsa, 59 anos, secretário de Turismo do prefeito Jonga Amaral (PCdoB) e jornalista esportivo conhecido em seu País – é amigo de jogadores brasileiros que por passaram por lá, como Zico e Amoroso. Em 1990, chegou a organizar em Udine, sua cidade natal, um amistoso entre a Seleção Brasileira e um combinado do resto do mundo. Atuou em campanhas políticas na Itália – como para o primeiro-ministro Silvio Berlusconi – e mantém um hotel-restaurante na cidade.
Falésias no percurso Prado-Cumuruxatiba
Há 20 anos na região e já com “baianês” no sotaque, o também italiano Enrico Pelletti, 50 anos, articulou prefeitos e reuniu-se com funcionários do ministério do Turismo no lobby pela reforma do aeroporto de Caravelas, cidade vizinha a Prado. A obra, iniciada neste ano, é a principal demanda e aposta de redenção para o trade turístico local.
Pelletti chegou a Prado em 1991. Hoje é dono de condomínio de 500 hectares, restaurante e barracas de praia pela cidade. Preside uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) de promoção do turismo na Costa das Baleias e fala com desânimo da política local. “Faltam hotéis de grande porte”, lamenta. O empresário, que dirige uma BMW Motorsport de R$ 580 mil, diz ter fechado recentemente a venda de 69 hectares em Prado, com 1,6 quilômetros de praias, a dois grupos europeus – um ítalo-inglês e outro ítalo-luxemburguês. Os nomes não revela, diz, por sigilo contratual.
Problemas que Pelletti e Casarsa mantiveram com órgãos ambientais federais sugerem uma relação difícil com essas autarquias. O secretário foi multado em R$ 1.500 pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) por ter levado sem autorização uma equipe de TV ao Parque Nacional do Monte Pascoal, em Porto Seguro. O condomínio de Pelletti soma multas ambientais e o empresário chegou a responder processo – e foi absolvido – pela acusação de ameaça de morte a um funcionário do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente).

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