Colégios baianos indicam tablets como ferramenta pedagógica e são notificados pelo Procon
A Tarde
Caderno, livros, módulos, caneta, lápis … e tablet? A introdução desta ferramenta em sala de aula é festejada por especialistas em educação, e dois tradicionais colégios de Salvador – o São Paulo, no Itaigara; e o Antônio Vieira, no Garcia – utilizarão a tecnologia nas aulas das turmas de 3º ano do nível médio. O primeiro vende aos alunos os tablets por R$ 825, com subsídio de 50%; já o Antônio Vieira disponibiliza módulos e tablet por R$ 1.107.A Superintendência de Proteção ao Consumidor (Procon) vê, porém, indícios de venda casada, o que, segundo o Código de Defesa do Consumidor (CDC), significa condicionar o fornecimento de produto ou serviço ao oferecimento de outros. O Procon já alertou os dois colégios sobre as infrações, em atos de constatação. As instituições terão dez dias para defesa.
O Colégio São Paulo, que não utilizará módulos, informou ter comprado junto a um fornecedor, grande quantidade do IPad2, que repassa aos estudantes. “Modernizamos e criamos em PDF o caderno de forma eletrônica. No futuro próximo, no meio da leitura, o estudante tocará no espaço onde há explicação do professor por meio de animações e vídeos”, disse o diretor técnico e pedagógico da mantenedora dos Colégios Anchieta e São Paulo, João Augusto Bamberg Conrado.
Ele ressaltou que os estudantes podem utilizar outros tipos de máquinas ou levar pen drives para copiar os conteúdos e acessá-los de casa. Mas enfatizou: “O aluno, com este material no tablet, terá mais recursos que em outro modelo de computador”.
O diretor afirma que o aluno não é obrigado a comprar os tablets adquiridos pelo colégio. Já o Procon apontou o contrário. “Temos o documento que é dirigido aos pais no qual o colégio afirma que apenas os tablets serão utilizados”, disse a diretora de fiscalização do Procon, Isabela Barreto. Bamberg sustenta que a carta não menciona tal condição e que buscará provar não haver venda casada.
Já no Colégio Antônio Vieira, os alunos terão tablets e módulos. Os tablets são fornecidos pela Editora Saraiva, que utiliza o “Sistema ético”; os alunos podem ter acesso ao conteúdo também por meio de portal da editora. “Mas o conteúdo só pode ser acessado pelo tablet da Saraiva e isto configura venda casada”, disse a diretora do Procon, Isabela Barreto. O Antônio Vieira, por meio da assessoria, informou que buscará solucionar o problema.
A gerente educacional do Antônio Vieira, Mariângela Risério, afirmou que o uso do tablet é complemento aos módulos e fruto da evolução tecnológica. É o que pensam as estudantes do Antônio Vieira, Maria Catarina Blanco e Raquel Paixão, ambas com 17 anos. “Com o tablet, podemos nos aprofundar mais nos estudos”, disse Raquel.
“É bom para interagir e compartilhar conhecimento”, afirma Catarina. Os pais de Raquel, Maria Rosa e Rômulo Paixão, entendem que inserir o tablet em sala de aula pode ampliar o uso do computador pelos alunos, não somente em redes sociais. “E não ficou absurdo adquirir os módulos e o tablet por R$ 1.107”, disse Rômulo.
Críticas - A superintendente do Procon, Cristiana Santos, criticou o que considera uma imposição dos colégio. “Com a venda do tablet financiado, fica claro que há um interesse do colégio, o que configura a infração”, disse. Ela sustenta que o tablet não pode ser visto como material didático a ser imposto ao aluno. “Isto pode ser problemático para estudantes mais pobres”. Cristiana diz que os conteúdos poderiam ser disponibilizados em portal no Colégio São Paulo.
A TARDE pesquisou em alguns colégios de Salvador o valor gasto por estudantes de nível médio com módulos. Uma aluna do Sartre-COC, que este ano cursará o terceiro ano, disse que, no ano anterior, desembolsou cerca de R$ 1,2 mil. O Sartre tem projeto piloto, em Salvador, com utilização dos tablets nos 6º e 7º anos do nível fundamental. Os equipamentos são fornecidos pelo colégio.
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