Alice Portugal reafirma candidatura e cobra alternância de poder no interior
Correio
‘Não somos satélites do PT’, disse a deputada federal, que citou Vitória da Conquista, com a pré-candidatura do deputado estadual Fabrício FalcãoOs quase 20 anos de atividade parlamentar deram maior serenidade aos gestos e falas da deputada federal Alice Mazzuco Portugal. Mas, a maturidade política não conseguiu esfriar o sangue quente típico de uma descendente de italianos. Principalmente, quando defende os pontos de vista pessoais e a ideologia do seu partido, o PCdoB.
Durante quase toda entrevista wm seu escritório no Canela, a ex-líder estudantil que irritava adversários com a aspereza dos discursos na Câmara e na Assembleia evita polemizar com o principal aliado, o PT, cuja direção nacional a considera uma rebelde. Mas, revela nas entrelinhas a insatisfação com os petistas na busca por maior espaço nas eleições, sobretudo em Salvador e grandes cidades do interior. De quebra, deixa no ar uma provocação com tom profético: “Nunca perdi uma eleição. Sou pé-quente”.
Há quatro anos, existia uma pré-candidatura própria do PCdoB à prefeitura de Salvador. Na ocasião, a vereadora Olívia Santana assegurou que não abandonaria a disputa, mas acabou saindo do páreo. Em 2012, o partido se lança novamente. Haverá repetição de 2008 ou a senhora vai mesmo se candidatar?
Política não é uma ciência exata, mas a expectativa do partido é estar presente em todos os municípios. Essa é a primeira meta. A segunda é partir para disputas no poder Executivo nas cidades mais importantes, nas capitais. Isso é um direito de afirmação de qualquer partido político.Existe uma tendência muito forte de a candidatura permanecer. Só não terá se houver uma iminente derrota. Mas Salvador não tem tendência de decidir no primeiro turno, o que não coloca em risco o projeto de um bloco democrático.
Não há desconforto do PT com a decisão do PCdoB?Decididamente não. Já conversei com o governador Jaques Wagner algumas vezes, ele veio ao aniversário de 90 anos do partido na semana passada e foi de uma elegância e de uma ação republicana muito grande. Ele sabe o que é a necessidade de colocar ideias na praça. Não há cara feia, há preocupações naturais.
Quais seriam tais preocupações?
Da oposição real ter um desempenho que possa ameaçar o nosso bloco. Só que a gente vai para as análises políticas e verifica que dificilmente, no primeiro turno, qualquer ameaça possa advir.
A decisão do PCdoB tem a ver com o desejo de deixar de ser
visto como satélite do PT?
Sabemos que, com um partido da nossa idade e tradição, não somos e nunca fomos satélite do PT. Somos aliados, mas não perdemos identidade.
No interior, como estão as negociações, sobretudo em Itabuna, Vitória da Conquista e Juazeiro, onde há nomes fortes do PT e do PCdoB na disputa?
São cidades grandes e estamos participando de todas, conforme nossa necessidade nacional. Mas, temos até junho para conversar. Há cidades onde há uma tentativa de precipitação das decisões. Isso não é bom para o nosso bloco nem para as cidades. Acaba somente antecipando o processo em torno do status quo político estabelecido. É uma coisa preocupante. Mas as conversas estão em curso.
E para onde apontam?
Em Vitória da Conquista, o partido vai afirmar a pré-candidatura do deputado estadual Fabrício Falcão, porque já nos consta que o grande prefeito e amigo querido Guilherme Menezes teria fechado como vice um nome de outra força política. Mas Conquista é uma cidade de dois turnos.
Em Itabuna, temos uma pré-candidatura, que é a do vereador Wenceslau Júnior, com três mandatos e que recebeu 30 mil votos para deputado estadual na última eleição. Por que, dessa vez, o PT não pode fazer conosco uma alternância? Estamos há 20 anos apoiando o PT em Itabuna, com todo gosto. Mas agora o nosso candidato aparece melhor. Não seria o caso de fazer o revezamento, ter um ato democrático de construção coletiva de um bloco?
Diante de seu questionamento, percebe-se que, no PT, há quem resista à alternância…(interrompendo) Não tenho autoridade para falar pela realidade interna de outro partido. Não obstante, somos aliados, mas cada um tem sua dinâmica. O PT, não é desconhecido da sociedade, é um partido de tendências. Possivelmente, podem haver diferenças, mas não apontaria quem é a favor ou contra. Acho que tudo é muito relacionado à realidade de cada lugar. Por exemplo, em Juazeiro, o PCdoB tem o prefeito (Isaac Carvalho), mas o PT tem três secretarias. Lá, há uma divisão dentro do PT. Uma parte quer uma candidatura própria e outra quer a reeleição do prefeito. Há um acordo entre nós, em que onde há uma prefeitura de um partido, temos que apoiar a reeleição. Então, estamos clamando ao PT que apoie Isaac. É chegada a hora de ir qualificando essa relação aliançada.
Em meio a tantas aspirações de partidos da base em Salvador, com tantos nomes lançados, como será o processo de apoios no futuro?
No segundo turno, o candidato da base aliada que avançar poderá contar com o apoio dos demais, sem dúvida alguma. Se eu ou Nelson Pelegrino (PT) chegarmos lá, terá de ajudar o outro, naturalmente. Não migraremos para campos opostos.
Pela lógica governista do apoio incondicional no segundo turno, o que o PCdoB faria se o nome fosse João Leão, cujo partido, o PP, é alinhado ao governo do estado?
Vamos ter que discutir, obviamente, mas a tendência é essa. O certo é dar o apoio ao candidato apoiado pelo governador. Se forem dois nomes da base, teremos que fazer opção. Prefiro não falar em nomes no momento.
O PCdoB conseguirá atrair outras legendas?
Estamos discutindo, mas acredito que a tendência seja agregar outros partidos, mesmo que poucos.
Pode dar uma pista de quais partidos estão na mesa de negociação?
Não seria justo antecipar assuntos a respeito de quem ainda estamos conversando e não batemos o martelo.
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