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Auxílio-doença para transtorno mental por consumo de drogas cresce 68,3%

A Tarde
Especialista diz que fenômeno é inédito e só agora percebido pelas autoridades.
Viciados em crack lideram pedidos de auxílio-doença na Bahia
Aos 18 anos, João* conseguiu o primeiro emprego de carteira assinada, como armador de andaime. Ganhava R$ 900. “No começo, comprava roupa e tênis de marca. Depois, comecei a gastar tudo com crack”, conta. Seis anos se passaram. O jovem perdeu o emprego, adotou a rua como moradia e hoje tenta se recuperar no Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas Gregório de Matos (Caps-AD), que funciona na Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, no Terreiro de Jesus.
Experiências desastrosas com as drogas já são conhecidas. A novidade é que elas têm refletido nas estatísticas previdenciárias na Bahia e no País. Levantamento realizado este ano pelo Ministério da Previdência Social revela que, no Estado, os afastamentos de trabalhadores por transtornos mentais diretamente relacionadas ao uso de drogas subiram 68,3%, de 268, em 2009, para 451, no ano passado.
O cenário baiano acompanha um fenômeno constatado no Brasil, embora este seja proporcionalmente menor. No mesmo período, o total dos auxílios-doenças no País saiu de 32.636 para 41.845, um aumento de 28,2%.
Fenômeno novo
O chefe dos médicos-peritos do INSS em Salvador, João Eduardo Pereira, considera o aumento dos benefícios um “fenômeno novo, que está sendo detectado agora”. Por isso, informou, o INSS ainda está se debruçando na análise mais detalhada dos dados. “Por enquanto, temos apenas suposições. Mas com a divulgação, inclusive pela imprensa, deste problema social, as pessoas estão procurando mais a Previdência, pela melhor clareza da existência do atendimento. Em paralelo, o acesso ao tratamento das doenças melhorou”, afirmou João Eduardo.
O perito comparou dados de benefícios concedidos em estados do Nordeste e nas regiões Sul e Sudeste. Enquanto, por exemplo, no Paraná e Minas Gerais, nos últimos três anos, os números de auxílios- -doenças relacionados ao uso de drogas foram, respectivamente, de 9.175 e 14.316, em Pernambuco essa contagem foi de 667 benefícios.
“Acredito que eles (Sul e Sudeste) estão mais à frente que a gente em termos de acolhimento, já que não é possível que nosso perfil epidemiológico seja tão diferente do deles. Mas vemos que não é um problema só da Bahia, mas do Nordeste como um todo”, avaliou o perito.
Quando se compara com o total de auxílios-doenças na Bahia, consideradas todas as patologias catalogadas no Códio Internacional de Doenças (CID), percebe-se que as enfermidades provocadas pela drogas são percentualmente pouco representativas. Em todo o Estado, foram 324,9 mil benefícios concedidos pelo INSS, contra os 1.706 (0,3%) daqueles gerados diretamente por conta das doenças ligadas ao uso de drogas.

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